No porto

Um barco está seguro num porto, no entanto, os barcos não foram construídos para isso.

Grace Hopper

Aqui encontro e conheço

Pela palavra - conhecemos mundos, gente, lugares, ideias, sentimentos.

Pela palavra - sem nos sentirmos despidos, conseguimos mostrar a nudez da alma.

Pela palavra - sem nos sentirmos invasores, conseguimos chegar ao coração de outros.

Pela palavra - sem alarde mas com verdade, podemos lançar sementes de paz.

Sentido

Em homenagem

A todos os que passam pelo mundo semeando a alegria e a esperança.
A todos os que generosamente dão de seu e de si.
A todos que, com estas qualidades, fazem a mercê de ser meus amigos.

As palavras são grãos de trigo. Campo de pão, alimento da alma.
Pelas palavras navegamos todas as águas, vivemos todos os lugares, conhecemos tanta mais gente. Pelas palavras vivemos e amamos.
Por elas nos damos aos outros. A vida de cada um de nós pode passar, mas as palavras boas que dissemos permanecerão para além de nós.

Meus passos perdidos

Ou meus passos achados, por lugares que me chamam, como vozes vindas do fundo do tempo.
São raízes antigas, que nem nós mesmos conhecemos, estes apelos?

E o mar ao fundo

Minha porta da esperança, meu caminho de fé nos dias, meu aconchego e meu sossego.
Minha rota de futuro, vereda da minha ventura, lugar de estar e sentir, caminho dos ausentes, onde os revejo e aperto de encontro ao peito.
Metade da beleza do mundo está nos olhos das crianças. A outra metade está quase toda nas águas, seja qual fôr a sua forma: do oceano à chuva, do rio à neblina, do gelo à lágrima.
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A solidão

A solidão é o tempo em que o coração perde a cor, perde o viço, deixa de saber galopar e ganha rugas.

A solidão é o tempo em que o tempo não vale nada e as lágrimas que se verte não são redentoras.

A solidão é o lugar onde não nos sentimos amados.

A solidão é a transformação das folhas verdes em manta morta.

A solidão é uma tenaz que faz de alguém náufrago da vida.

A solidão é o momento em que a esperança se debate, se debate...

Junto ao mar

É sempre junto ao mar que me reconheço, que me evado, que me acalmo, que ouso sonhar mais alto.

Mansidão ou cinismo

Detesto, com ferocidade, quem quer que se julgue dono do mundo ou da vontade de alguém.

Porque todos temos defeitos, falta-nos, por vezes, o ser "manso de coração".

A mim, com muitíssimos mais defeitos do que virtudes, não só me falta a mansidão. como sou capaz de um elevado cinismo para quem acho que o merece.

Como é frágil e imperfeita a nossa humana condição!

Ainda o Agnus Dei

Ouvi, em tempos, alguém a dizer a outrém: "Salta a cerca, salta a cerca"...
O Agnus Dei, sofrido, arrastado, resignado, conformado, aceitando a Cruz ou, por outro lado, saltando a cerca, assumindo-se como Alfa do rebanho?

Ainda vivem?

Já morreram os meus pais, ambos.

Contudo, no seu quintal, as flores permanecem vivas.

Como aceitaremos que tudo se renove e não voltem mais aqueles que amamos?

Que mistério é este da vida da morte?

Se já dizia Camões: "...Tão Longo Amor Tão Curta a Vida"...

Pedra e azul

E o azul a que volto sempre, a que volto ainda, por mais um pouco!

Ainda cuido, ainda planto

Ainda amo e fotografo.

Poema - REQUIEM POR MIM

Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os órgãos e sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que nele tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei,
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.

Miguel Torga

Pelos caminhos

Os pés errantes continuam.

Porque em frente é que é o caminho.

Desistir, não!

Desistir, nunca!

Guarda-me a alma, como diz o Poeta

Para que eu continue a "ter alma" quando conseguir voltar...

O barco vai de saída
Adeus ao cais de Alfama
Se agora ou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P’ra lá da loucura
P’ra lá do Equador

Ah mas que ingrata ventura
Bem me posso queixar
da Pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida
........................................
Fausto
em "Por este Rio acima"

Quase como um coração

onde o pulsar se sente!

Dúvidas

Questiono-me:

sou paciente como uma abelha, ou sou lenta (lerda) como um caracol?

Será que vou morrer na dúvida?

As noites do verão

É com lanternas assim, singelas, que ilumino o meu terraço, nas noites do Verão.

Mas quando o luar resplandece, dou folga às lanternas, deito-me num pedaço de relva e viajo.

Porque, para os pensamentos e os afectos, o "lá longe" não existe.

PENÉLOPE

Desfaço durante a noite o meu caminho.
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo.

Sophia M. B. A.

A vela enfunada

E a gente fica na margem!

Solitário

É um estado de espírito, ou uma jarra alta e fininha?
É ambos.

Sobre carris

Viajam os sonhos!

O poder da imagem, a força da palavra

Há imagens que nos dilaceram como punhais afiados.

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E há gestos e palavras que acendem uma luz.

Ou isso...

Gosto de levar o cão a passeio.

Não é meu, mas é dócil e um bom pretexto para espraiar a vista.